domingo, 5 de outubro de 2014

1982 - Eurico luta pela escalação de Roberto

Já em 1982, a força de Eurico no clube era incontestável. Seus embates na FERJ, além da postura clara e objetiva em defesa do Vasco, encantavam torcedores, conselheiros, sócios e beneméritos. Próximo a eleição de novembro, uma votação interna da diretoria decidiria o candidato da situação à presidência, uma vez que Alberto Pires Ribeiro, já adoentado, não pretendia concorrer a reeleição.O nome escolhido foi o de Eurico.



Quando a decisão foi anunciada , em evento na sede do Calabouço,houve algumas restrições ao nome escolhido. Um grupo da direção do Vasco, que não concordara com a decisão da maioria, havia planejado lançar outro candidato, para contrapor a Eurico.

Assim, traindo o acordo anterior ao desconsiderar a votação da diretoria, Antonio Soares Calçada entrou no páreo, também representado a situação. Resultado: esta partiu para o pleito com dois nomes.

Às vésperas da eleição, mais uma vez a personalidade de Eurico se fez presente num episódio polêmico. Roberto Dinamite — na época muito próximo de chegar à marca de 500 gols e principal jogador do time no Campeonato Carioca — era dúvida para a partida contra o Botafogo que valia a liderança da Taça Rio, segundo turno do campeonato,

Tudo começou a 31 de outubro na partida ocorrida entre Campo Grande e Vasco disputada no estádio Ítalo del Cima. O Vasco terminou a primeira etapa vencendo 1 x 0, gol de Roberto em cobrança de falta. No intervalo, o árbitro Aloísio Felisberto foi agredido por um dirigente casa e não voltou para o segundo tempo, sendo substituído pelo juiz reserva Luís Carlos Dias Braga. A bronca do Campusca era decorrente de um impedimento não marcado na origem do lance que redundou no gol vascaíno. 
A equipe anfitriã conseguiu o empate na segunda etapa , mas o clima de guerra envolveu atletas, dirigentes, arbitragem e torcedores até o fim da partida. 



No vestiário, Eurico Miranda disse que iria tentar a impugnação da partida e a interdição do estádio. Dito e feito. No prazo de 48 horas, o clube já havia entrado com recurso. Um dia depois, surgiram rumores quanto ao aproveitamento de Roberto mite na partida seguinte diante do Botafogo (o artilheiro havia recebido o terceiro cartão amarelo no duelo em Campo Grande e estaria fora do clássico a ser realizado no fim semana). De fato, a impugnação da partida tornaria sem efeito o terceiro amarelo levado pelo atleta, até que o imbróglio fosse resolvido. Eurico conseguiu com o presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), Henrique Saraiva, uma liminar dando condições de jogo a Roberto e o Gigante da Colina foi com seu artilheiro para o dássico de domingo. 

No Maracanã, o Botafogo surgiu com nova liminar dada pelo presidente do CND (Conselho Nacional de Desportos), general César Montagna, que, em linhas gerais, impediria a escalação do centroavante cruzmaltino. O árbitro da partida, Valquir Pimentel comunicou ao Vasco ter recebido o documento que tornaria sem efeito o anterior. Roberto estava impedido de atuar no clássico. A notícia foi veiculada pelas rádios e a torcida viveu o drama de ficar sem saber se ia ao estádio ou ficava em casa. Posicionado na tabela um ponto atrás do líder alvinegro, a vitória — a quatro rodadas do fim — seria fundamental para o Vasco àquela altura. Mas valeria a pena assistir àquele duelo se Roberto Dinamite, principal atleta da equipe, não pudesse atuar? Os vascaínos estavam ávidos por uma informação oficial do clube que garantisse o artilheiro em campo e os motivasse a comparecer ao Maraca. Eurico ficara em voga durante toda a semana em função da liminar obtida que, por consequência, liberaria Roberto Dinamite para enfrentar o Botafogo. 

De certa forma, isso incomodava o grupo simpático a Calçada, então vice-presidente de futebol e candidato à presidência do Vasco. No episódio, Calçada, em vez de fechar com Eurico e bancar a escalação de Roberto, optou por consultar o vice-jurídico do clube, Erasmo Martins Pedro, e este se limitou a desaconselhar o uso do artilheiro naquele jogo. Evidenciava-se, entretanto, não ser possível a ninguém declarar algo a respeito com o mesmo conhecimento de Eurico naquela situação específica, pois desde o início foi ele próprio quem articulou nos bastidores a fim de fazer com que o Vasco tivesse garantido um direito seu — previsto no regulamento da competição — e ainda calcado na garantia dada pelo tribunal máximo da justiça Desportiva. 

A liminar assinada pelo general não cassava a outra, apenas dava um parecer diferente sobre a mesma questão. Roberto não foi escalado; Eurico se demitiu do cargo de assessor especial da Presidência do Vasco; o Vasco caiu de quatro no Maracanã (4 x 1) e, na manchete de segunda-feira, o Jornal do Brasil resumia tudo: " Goleada no campo, na torcida e no tapetão"

A declaração de Pedro Valente, vice-presidente médico do clube, proferida ao final do jogo, foi emblemática: 

"Isto é uma vergonha. Não sei como estes homens que dizem ser Vasco aceitam um documento só porque ele está assinado por um general. O Montagna é presidente do CND e não precisa ter medo dele. Esta turma que aceitou a barração do Roberto me deixa decepcionado. Eles não são vascaínos. Só pensam em acabar com o Eurico porque ele é quem mais luta pelo clube. Não tem medo de ninguém, nem mesmo de general"

Três dias depois, Roberto Dinamite marcava seu 500º gol na carreira e o dedicaria, entre outros, a Eurico Miranda, "o homem que me trouxe de Barcelona". Em outra fala, o artilheiro esclareceu: "Foi ele quem foi me buscar em Barcelona, quando ninguém tinha condições para isto, depois da sujeira que fizeram comigo".



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