Texto escrito por Eliakim Araújo em 08/01/2001
Estou
impressionado com a ira de grande parte da imprensa contra o Vasco.
O
furor contra o Vasco de Eurico Miranda é cego, quase irracional. Comentaristas
respeitáveis deixam de lado a impacialidade e a coerência para despejar
contra o Vasco um ódio próprio da idade da pedra.
Está-se armando um golpe
do mais baixo nível contra o Vasco.
Eurico tem muitos defeitos, mas é
um dirigente que bate e dá a cara para bater.
Com isso, ganhou inimigos
poderosos na mídia, sobretudo nas organizações Globo.
Todo mundo sabe
que Eurico e o chefe de esportes do jornal o Globo têm uma briga feia
na Justiça. Todo mundo sabe que, recentemente, Eurico proibiu a equipe
da Rádio Globo de transmitir uma partida do Vasco em São Januário.
Todo
mundo sabe que Eurico sempre questionou os horários impostos pela TV (leia-se
Globo) para transmitir o futebol. Apesar disso tudo, talvez por motivações
clubísticas ou regionalistas, todos se voltam contra o Vasco. É um verdadeiro
linchamento do Vasco o que estamos assistindo.
É como se a razão
fosse deixada de lado e os linchadores quisessem fazer justiça com as
próprias mãos. Quem acompanhou com cuidado
a transmissão da Globo pôde observar a mudança de posição repentina da
equipe. O comportamento paciente da torcida durante todo o tempo de socorro
às vítimas foi enaltecido por Galvão e sua equipe. O ex-árbitro Wright
chegou a comentar sobre o risco da suspensão do jogo. Qual seria a reação
dos 40 mil torcedores do Vasco que aguardavam disciplinadamente o atendimento
das vítimas, indagou Wright.
Depois de quase 1 hora
de paralisação, a posição da Globo mudou. Todos passaram a atacar violentamente
a continuação da partida. Ninguém sabe porque, mas dá prá desconfiar.
O fato é que o governador Garotinho, aproveitou o momento importante,
uma transmissão em rede nacional, para fazer a média de que tanto precisa.
Preferiu desmoralizar o coronel comandante dos bombeiros e chefe da defesa
civil, que acabara de dar entrevista no meio do campo, garantindo que
tudo estava serenado, a segurança fora reforçada e a partida poderia continuar.
Assim, a Globo ficou no ar o tempo que quis e encerrou a transmissão sem
prejudicar a grade da programação, voltando com a novela das seis no horário
normal. Hoje a Globo coloca no ar meia verdade: só o que Eurico falou
depois da ordem de cancelamento, quando ofendeu o governador Garotinho.
O que ele disse uma hora antes logo depois do incidente, quando pregou
o socorro prioritário às vítimas, é omitido. Por má fé ou ingenuidade,
a imprensa não está conseguindo separar o ódio ao dirigente do ódio ao
clube. E Eurico foi transformado no grande vilão, culpado de todas as
mazelas e sacanagens do futebol brasileiro. Todos os outros cartolas viraram
santos e estão prestes a serem canonizados pela mídia.
E a falta de memória dos
nossos cronistas... Acidentes em estádios de futebol são deploráveis,
mas infelizmente acontecem com certa freqüência. Quem não se lembra
das cenas de horror na Bélgica, numa decisão de copa européia, quando
quase 40 torcedores foram imprensados contra o alambrado e morreram asfixiados
tentando fugir de uma briga. E no Maracanã, mais recentemente, em jogo
do Flamengo, a grade de proteção da arquibancada cedeu e seis torcedores
morreram ao despencar no espaço. Em ambos os casos, os jogos foram realizados
e repercussão foi praticamente nenhuma perto do que estamos assistindo.
Dá prá imaginar o que teria
acontecido se uma das vítimas de São Januário tivesse morrido... Não duvido
até que os linchadores tivessem torcido por uma tragédia maior para que
a crucificação do Vasco fosse mais expedita. Querer dar o título ao São
Caetano, como se a briga na arquibancada fosse fomentada pelos dirigentes
é bestial, é a mais completa falta de equilíbrio.
Até o deputado paulista
Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, quer tirar sua casquinha.
Deu declarações afirmando que vai acelerar o processo de perda da imunidade
parlamentar de Eurico Miranda. Sem dúvida, uma ótima jogada política.
Assume uma a posição simpática perante a mídia e ganha votos em seu território
eleitoral, com a adesão de torcedores e dirigentes de clubes paulistas.
Tudo contra o Vasco.
A paixão das torcidas adversárias
é perfeitamente compreensível. Afinal, um quarto título nacional daria
ao Vasco uma posição respeitável no ranking do futebol brasileiro. O certo,
então, é tentar dar o título ao São Caetano, provavelmente este será o
único título nacional dessa equipe paulista, deduzem os torcedores em
sua paixão clubística. Com a posição adotada pela maioria da mídia, com
os políticos querendo fazer média e todas as torcidas contra, a verdade
é que os ingredientes estão prontos para a receita do golpe contra o Vasco.
É preciso deixar de lado
o ódio e a paixão. Os fatos devem ser analisados com justiça e serenidade.
Não se pode, em nome de uma briga da mídia com um dirigente, sacramentar
uma injustiça contra uma das maiores torcidas do Brasil. Do jeito que
a coisa vai, não é difícil que cruzadas se formem para invadir e destruir
tudo que diga respeito ao Vasco e seus torcedores sejam queimados em praça
pública.
Por favor, senhores, menos
paixão e mais razão.
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